segunda-feira, 18 de maio de 2009

Rolhas – Verdades e Mitos

Nos dias de hoje encontramos três tipos diferentes de rolha mais comuns. A mais clássica, tradicional e popular é a rolha de cortiça, mas isso está mudando.
Cada vez mais encontramos rolhas sintéticas, aquelas que parecem borracha e geralmente são bege para ficar “parecido” com a cortiça e as chamadas screw caps, que são as tampas de rosca.
É muito comum as pessoas acharem que os dois últimos tipos de rolhas não prestam e muitos ainda deixam de comprar o vinho por achar que o vinho não é de qualidade.
O que tem de verdade e de mito nisso? O tema é polêmico no mundo do vinho e enólogos, sommeliers e críticos de vinho têm opinião própria. Portanto para descobrir precisamos conhecer um pouco mais da história das rolhas.

Rolha de cortiça
Nos anos 30 do século XVII Kenelm Digby inventa a garrafa de vidro. Cinquenta anos depois, uma segunda revolução, com o desenvolvimento da rolha de cortiça.
Em 1680 D. Pérignon usa a cortiça em seus champagnes e descobre que com elas o vinho aumenta sua durabilidade.
Em 1830 surgem os equipamentos capazes de introduzir rolhas cilíndricas nos gargalos das garrafas e 60 anos depois são fabricados os primeiros aglomerados de cortiça. Em 1903 inventam-se as rolhas de duas peças, com a parte inferior de cortiça natural e a superior com aglomerado. Nos nossos dias, produzem-se rolhas de cortiça de diferentes tipos e dimensões – de cortiça natural, de aglomerado, mistas, cilíndricas, cônicas, para champanhe, de inserção manual e ‘twin top’.
A rolha de cortiça é de origem vegetal e é extraída da casca da arvore Sobreiro, muito cultivada em Portugal. Ela é compactada e depois de pronta se torna um vedante natural impermeável.






Árvore Sobreiro e retirada da casca



Prós
- É o tipo mais clássico, tradicional e charmoso.
- Ganha longevidade e evolução.
- Não dá aromas estranhos se não atacado por nenhum fungo.
- Mais apresentável ao abrir.
- Poder de vedação muito forte.

Contras
- Custo: Uma boa rolha pode custar de U$1 à U$2 encarecendo muito o custo dos vinhos.
- Perda: Estimasse que 12% da produção mundial de vinhos com rolhas de cortiça são atacados pelo composto químico 2-4-6 Tricloroanisol (TCA), que dá o “gosto de rolha”, o famoso “bouchonet” que gera bolor, mofo e mal odor ao vinho. Esse é um dos motivos para o cliente recusar uma garrafa de vinho no restaurante.
- A casca do sobreiro é extraída de 10 em 10 anos e muitos produtores não respeitam essa fase e produzem rolhas de má qualidade. Hoje a nova geração em Portugal não quer trabalhar na produção da cortiça pelos baixos salários e por não ser parte da tradição contemporânea. A Associação Portuguesa de Cotiça faz campanha e luta para ter apoio e fazer esse quadro mudar. (Veja link)


Screw Cap

O nascimento da cápsula de rosca (screwcap) é bem mais recente. Em 1959, a companhia francesa La Bouchage Mécanique introduz o Stelcap-vin depois da Stelcap ter provado eficiência com licores. Em 1970, a Australian Consolidated Industries adquiriu os direitos de fabricação e a Stelcap foi rebaptizada por Stelvin.
Porém com as duras críticas a empresa manteve a produção em stand by até que no final dos anos 80 começaram os problemas com a cortiça e foi descoberto o tipo de fungo que o atacava, daí em diante a produção deste tipo de rolha cresceu muito. Esse é um dos motivos dos vinhos australianos e neozelandeses serem a maioria engarrafada em screw cap. Outro motivo é que eles conseguem baratear o custo já que gastam demais para exportar ao ocidente devido a distancia.

Prós
- Facilidade para abrir em lugares que não há saca rolha.
- Imagem de vinho contemporâneo atrai os jovens e iniciantes.
- O custo total do vinho é menor.
- Por ser industrial, é muito higiênico e dificilmente trará problemas ao vinho.

Contras
- Não é nada elegante abrir uma garrafa dessas no restaurante, não “impressiona” e tira o charme e a tradição. Quem não gosta de ouvir aquele barulhinho da rolha saindo?
- Preconceito e rejeição, principalmente nos países europeus.
- Não evolui na garrafa, porém esse não é a sua proposta. Os vinhos com esse tipo de rolha estão prontos para o consumo. O vinho não ganhará complexidade nos aromas.



Rolhas Sintéticas

Ao contrário do que se imagina, não veda completamente a garrafa
e a troca de oxigênio pode oxidar o vinho precocemente, obrigando que seu consumo seja rápido, de 1 a 2 anos no máximo.
É muito difícil de abrir e o ritual de abrir um vinho pode se tornar constrangedor.
Apesar de ter crescido muito está muito atrás do screw cap. A maioria dos produtores que decidem vedar o vinho numa rolha alternativa prefere a screw cap.
Quando olhamos a garrafa screw cap já percebemos que ela é de rosca, mas a sintética não. Depois de comprarmos a garrafa e tiramos a cápsula vem a frustração.

De fato a rolha alternativa não quer dizer que o vinho será de má qualidade. Particularmente não me agradam as rolhas sintéticas, acho que dá gosto desagradável de plástico aos vinhos e perde toda sua característica já que a troca de oxigênio é intensa. É muito difícil de abrir e não são atraentes.
Os de screw caps são eficazes, e hoje já tem adeptos de países tradicionais como França e Itália. A maioria dos enólogos e produtores se pudessem vedariam seus vinhos somente com screw cap, pois além do custo ser menor, o prejuízo é quase zero.
Pra mim já se tornou uma marca dos vinhos Australianos e Neozelandeses o que gera sim certo charme , indentidade e marca.
Sou muito aberto a novidades e a favor da simplificação no mundo do vinho, mas ainda sim prefiro à boa, nobre e velha rolha de cortiça, mas a boa e não aqueles aglomerados compactados que é o resto do resto das cortiças. Se for para fazer um compactado eu prefiro que o vinho seja de screw cap! Acho que o consumidor de vinhos não quer rapidez, agilidade e praticidade na hora de abrir uma garrafa. Ele quer emoção, prazer, reflexão e glamour.
E você?




2 comentários:

  1. Parabéns pelo texto Pera. Pra que tinha alguma dúvida.... É verdade que eu, romanticamente, ainda prefiro a rolha tradicional de cortiça. Mas não podemos negar que esta mudança é um fato já consumado. Só nos resta aceitar, adaptar e aproveitar o líquido mesmo assim. abraço

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  2. Hello

    A small video about cork here

    http://philippe.chappuis.googlepages.com/video_cork.htm

    --
    prac
    --

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